Gabriela Rodrigues Bacelar
Há aproximadamente 10 anos, em um evento organizado pela professora Ma. Magali Amorim, tive a oportunidade de participar da palestra “Organização das tarefas de trabalho” ministrada pela especialista em Mapas Mentais Liz Kimura. Esse foi o meu primeiro contato com essa ferramenta. Fiquei muito empolgada com a novidade, tanto, que em seguida já queria utilizar no meu ambiente de trabalho para melhor organizar a rotina. Porém, infelizmente, por motivos que não me recordo agora, não consegui colocá-la em prática.
O tempo passou e, quando estamos em sala de aula (quem é professor sabe bem como funciona), sempre procuramos coisas novas para atrair a atenção e motivar os nossos alunos. Isto se acentuou com a mudança drástica que tivemos em março de 2020, devido à pandemia, quando tive que pensar em novas estratégias para possibilitar o diálogo com os estudantes, levando em consideração que o atendimento remoto teria que ser pensado para um público que, em sua maioria, não possui computador, tem acesso à internet somente pelo celular e faz uso de dados móveis, não podendo ficar muito tempo assistindo a vídeo aulas.
Diante disso, lembrei-me de uma página sobre matemática que sigo em uma rede social em que a concepção de Mapas Mentais/Conceituais/Resumos Ilustrados me despertou interesse, assim como pela autora, a professora Thalita Cornélio (@professorathalitacornelio). Formada em matemática pela Unicamp, Thalita participa de um grupo de estudos na Universidade e leciona matemática e física para a educação básica na rede particular. Os resumos dela fizeram tanto sucesso que ela fez algumas lives durante o ano (inclusive junto à Liz Kimura) para falar sobre o seu processo de criação e de como trabalha com seus alunos.
Para corroborar com esse processo, pode-se visualizar dentro dos pensamentos fundamentais da matemática, propostos pelo Currículo da cidade de São Paulo, que “A ideia de representação está relacionada com a simbologia matemática, mas também se apoia na linguagem oral e escrita, nas representações icônicas (figuras, esquemas, diagramas, etc.)”(SÃO PAULO, p. 66).
Toda essa história me inspirou a utilizar essa abordagem com meus alunos e no decorrer do ano, fui pesquisando e tentando me aprimorar para melhor contemplar seus anseios.
Mas, afinal de contas, o que são os Mapas Mentais e para que servem?
O Mapa Mental é definido por Tony Buzan (2009) em seu livro “Mapas Mentais” como uma ferramenta, técnica e/ou método de criação/aprendizado, onde o objetivo é organizar, armazenar e priorizar informações, através de palavras-chave e imagens que desencadeiam lembranças e são construídos tendo como base uma estrutura semelhante aos neurônios, galhos de árvore, nervura de folha. Ao analisar a forma linear e não-linear do funcionamento do cérebro, o autor enfatiza que as palavras-chave são ativadoras da memória e sua função dentro dos Mapas é começar com um conceito central que depois vai se expandindo; trabalhar com as ideias mais importantes, ligar os conceitos e pensar que a criação é única: cada um vai construir seu Mapa de acordo com sua percepção.
Ainda, para ele, essa ferramenta, pode ser usada na escola, para: revisão de conteúdos, anotações, desenvolvimento de ideias criativas, gerenciamento de projetos, entre outros. Segundo ele, “os Mapas Mentais são particularmente de grande ajuda no ensino escolar e em diversos tipos de treinamento e educação” (BUZAN, 2009, p. 12). Cabe salientar que Tony Buzan era um psicólogo e escritor inglês, e é considerado o “pai” dos Mapas Mentais. Seu nome aparece vinculado como uma autoridade mundial sobre aprendizagem, memória e uso do cérebro e esse recurso tem por objetivo conseguir libertar o potencial do cérebro.
Resumos ilustrados para 6os anos do Ensino Fundamental
Munida com o referencial teórico citado, comecei o desafio de construir o que vou chamar aqui de “resumos ilustrados” para orientar os alunos dos 6ºs anos em matemática, da EMEF João XXIII, na cidade de São Paulo. Iniciamos o atendimento remoto aos alunos no final do mês de abril de 2020. A plataforma oficial utilizada pela SME (Secretaria Municipal de Educação) foi o Google Sala de Aula; além disso, foi disponibilizado um material impresso denominado “Trilhas de Aprendizagens”.
Ficou a critério de cada unidade escolar a organização para melhor atender os alunos. Na EMEF João XXIII, pensando em contemplar as 10 disciplinas presentes no ensino fundamental, resolvemos fazer a orientação aos estudos deixando suas disciplinas por dia da semana. Desta maneira, fiquei responsável por propor atividades semanais que eram direcionadas todas as segundas-feiras e acompanhadas durante os outros dias da semana por meio do Google Sala de Aula. Assim, para melhor organizar o processo de ensino-aprendizagem, optei por propor semanalmente duas a três atividades do material impresso e utilizar os “Resumos Ilustrados” para orientá-los quanto aos assuntos abordados nas mesmas. Esse trabalho foi desenvolvido durante todo o ano de 2020 e, ao longo do tempo, fui procurando me aprimorar na construção desse recurso.
A imagem á seguir é um dos inúmeros “Resumos Ilustrados” que foram utilizados durante o ano.
Pode-se observar que a proposta é de simples material (folha A4 sem pauta e canetas coloridas) e busca chamar a atenção para o assunto central e seus principais elementos, servindo tanto como um recurso para orientação aos estudos, quanto como um “norte” de palavras-chave para iniciar uma pesquisa e se aprofundar no assunto, despertando a investigação e a leitura e incentivando o papel ativo dos estudantes protagonistas.
Agora cabe aqui a pergunta: Qual o retorno do público-alvo em relação à proposta apresentada? A princípio, os alunos queriam reproduzir os resumos; porém, minha orientação era sempre que eles fizessem a leitura e procurassem, caso ainda encontrassem dificuldade, saber por onde começar a pesquisar através das ideias principais. Durante o ano também os estimulei a criarem seus próprios resumos e a utilizarem essa ferramenta em outras disciplinas. No final do ano, ao realizar uma pesquisa sobre como haviam sido as aulas (orientações aos estudos), a metodologia e os recursos adotados, o retorno foi bem positivo no sentido da aceitação da apresentação dos conteúdos nesse formato. Porém, acabei não propondo a eles que criassem seus próprios resumos, algo que pretendo fazer agora em 2021.
Pensar diferentes estratégias de ensino que possam promover novas aprendizagens em sala de aula e encontrar maneiras de facilitar a comunicação e a construção do processo de ensino-aprendizagem tem se tornado um grande desafio para os educadores. Geralmente não utilizamos um único recurso, tendo em vista a pluralidade do nosso público e a clareza de que cada indivíduo carrega em si uma forma de aprender. Acredito que os Resumos Ilustrados têm um grande potencial pedagógico, seja de forma remota ou presencial, para resumir conteúdos, livros, apresentar ideias, projetos e até como atividade de verificação de aprendizagem. Tenho como compromisso aprimorar-me e continuar utilizando-o em sala de aula e espero que outras pessoas possam se inspirar e fazer uso também.
Referências Bibliográficas
BUZAN, Tony. Mapas mentais. Tradução de Paulo Polzonoff Jr. – Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
CORNÉLIO, Thalita. https://www.instagram.com/professorathalitacornelio/?hl=pt-br. Acesso em 21 de dezembro de 2020.
KIMURA, Liz. https://www.youtube.com/c/LizKimura/videos. Acesso em 20 de janeiro de 2021.
SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental: componente curricular: Matemática. – 2.ed. – São Paulo: SME/COPED, 2019.
____________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Trilhas de aprendizagens: Ensino Fundamental – 6º ano – volume 1 e 2. – São Paulo: SME/COPED, 2020.
Gabriela Rodrigues Bacelar
Professora de matemática na rede estadual e municipal de São Paulo. Licenciada em Matemática e Especialista em Educação Matemática.
3 Comentários
Concordo plenamente com a autora, sobre a importância do trabalho com mapas mentais, essa ferramenta contribui muito para facilitar o aprendizado, ajudando a fixar conceitos. Corroboro no sentido de que há um grande potencial pedagógico, na utilização dos mapas mentai, seja de forma remota ou presencial.
Parabéns amiga querida
Prezada Gabriela,
Achei bem interessante este recurso dos mapas mentais, se aproximam bastante dos esquemas-resumo que acabamos realizando nas aulas expositivas de história, o que serve como uma “guia de estudos” para aqueles alunos que buscam o “algo a mais” em seus estudos, e como um apoio importante para aqueles que possuem mais dificuldade na organização do conteúdo e de suas reflexões.
Foi possível notar uma melhora, em termos de desempenho, na aprendizagem dos alunos, mesmo levando em consideração o contexto de pandemia?
Grande abraço e parabéns pelo trabalho desenvolvido!