Silvio Valentin Liorbano
Mais do que repassar as histórias de Tistu e do Pequeno Príncipe, é bom deixar claro – ao pé da cama – que as crianças é que são príncipes e princesas. Talvez a história mais significativa a ser contada (quando os filhos alcançarem o tempo dos questionamentos) é o dia em que nasceram.
Se for triste ou alegre, se for à noite, à tarde ou pela manhã, se de parto natural ou cesariana, se no inverno ou no verão, se com chuva ou sol, se num hospital luxuoso ou em uma manjedoura – tudo importa, quando os protagonistas são importantes demais. Antes dos livros, a oralidade dos pais (alfabetizados ou não) é o portal entre a fantasia e a realidade.
Contar um “causo” ou ler um livro antes da criança dormir é sempre um gesto amoroso – é o melhor pretexto para estar próximo de quem precisa desvendar o mundo. O afago da voz dos pais pode chegar aos ouvidos dos netos e do futuro.
E no espaço escolar professores apresentam os escritores e poetas, e dizem poemas de amor e dor porque falam eles de conflitos armados, de guerras interiores e exteriores – de baionetas literais ou das lâminas afiadas da solidão humana.
É no convívio com as palavras que se dá a descoberta do universo poético – seja a prosa poética ou o verso livre impresso em página de livro. A paixão de um leitor contagia o outro – é no desvelar das insignificâncias visíveis e invisíveis que se dá o encontro com a poesia.
O olhar de indiferença em uma sala de aula pode ser também de deslumbramento diante do irrefutável – diante do amadurecimento do corpo e do amor.
O amor e o tempo
Os cabelos serenados
Querem dizer de um tempo antigo,
Mas de sentimento sempre novo
Não se namora nada como antes
É sempre agora o amor.
O homem se foi...
Foram-se as feições de menina
E a mulher arruma jeito
De desarrumar os caminhos
De forrar a cama com lençol de algodão
Para o corpo masculino cansado
Que chega de algum lugar da lembrança.
O homem que se foi...
Chega faminto de mim.
Mais do que ler um conto, uma crônica, uma fábula (em casa ou em uma sala de aula), é importante que toda leitura venha carregada de profunda sinceridade. A arte literária ou qualquer outra manifestação artística pede a mínima lágrima de quem dispõe a interpretá-la.
Junto da emoção há sempre o ambiente propício – quintais e fogueiras imaginárias e estrelas também. Há sempre um coraçãozinho ávido em sonhar acordado com lugares mágicos e seres fantásticos: os seus pais, os amigos e o professor que leu o primeiro texto para ele.
Abra o livro!
Silvio Valentin Liorbano
Homem cinquentenário, graduado em Letras, pai, professor e poeta. Alguns livros publicados para crianças e jovens. Alguns prêmios literários. Seu trabalho mais recente é o livro “Olhos de engolir horizonte” (Editora Patuá – 2020).