Do lado de cá das carteiras

Maria Carolina Leite

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Do lado de cá das carteiras
Ilustração: Eduardo Malmagro Camacho

O debate sobre educação é um tema muito presente na sociedade, tanto nos grandes veículos de comunicação, em notícias, artigos, editoriais, reportagens, entrevistas, quanto nas nossas conversas cotidianas. Falar sobre educação – embora a palavra em si seja extremamente ampla – parece uma verdadeira obsessão. 

Se por um lado esse desejo se deve ao fato de todos termos frequentado a escola como estudantes boa parte de nossas vidas – o que é válido – por outro, a presença de atores sociais diversos opinando sobre a educação resulta em discussões pouco profícuas, distanciadas da realidade e que não conferem ao tema o olhar que ele merece.

Nesse ponto cabe a pergunta: onde estão os professores nesses debates? Enquanto a sociedade como um todo vivenciou a escola por trás das carteiras, somente uma parte dela hoje a vivencia do outro lado, o lado docente. Com raras exceções, quando se discute educação e seus diversos desdobramentos – processos de ensino-aprendizagem, projetos pedagógicos, avaliação discente, políticas públicas – o professor é colocado fora da conversa.

Talvez você já tenha visto uma entrevista com um economista sobre a inflação ou com um médico em um programa sobre diabetes e hipertensão. Repare: advogados, nutricionistas, engenheiros, arquitetos e diversos outros profissionais opinando, do ponto de vista de suas formações e especialidades, sobre assuntos relativos às suas áreas de atuação. Quando o assunto é educação – reitero a amplitude do tema, que pode englobar questões muito específicas – onde estão os professores?

Muitos podem ser os motivos desta ausência, entre eles está, sem dúvida, a desvalorização do professor. Intencionalmente, o docente não é visto como uma voz digna e capaz de analisar e opinar sobre seu trabalho – isso quando não aparece alguém para dizer que o desenvolveria de uma forma “melhor”. O apagamento da voz docente se dá de forma sistemática e é motivado por uma vontade de deixar de fora das decisões os maiores envolvidos no processo educacional depois dos estudantes.

Acredito que a exclusão do discurso do sujeito é, consequentemente, a exclusão do próprio sujeito, uma vez que vivemos em uma sociedade permeada e condicionada pela linguagem. Como reverter este processo? Proponho que um dos meios, além da luta constante, seja através de projetos como a Revista Relatos Escolares. Quando as vozes que ouvimos não nos contemplam, o que está faltando é a nossa própria voz. 

mariacarolina@relatosescolares.com.br | + posts

Professora na rede municipal de ensino de São Paulo. Bacharela e Licenciada em Letras Português/Linguística e Licenciada em Pedagogia.

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1 comentário

  1. Prezada Maria Carolina,

    Incrível como somos colocados no plural, muitas vezes como sujeitos ocultos, que só devem aparecer quando tratamos nossa profissão com amor, não importa os baixos salários, as infraestruturas inadequadas, entre outras questões muito ligadas ao nosso dia a dia. A nossa pluralidade, ao mesmo tempo que é um fator fantástico em nossa prática, pois permite aos alunos diferentes visões, diferentes pontos de vista e especialidades em seu processo educativo, causa espécie na sociedade, que busca sempre uma universalização de sujeitos, para dizer: o professor é isso, a professora é aquilo… E, no final, somos um monte de coisa, mas ao mesmo tempo, não somos nada.
    Desta feita, em discussões midiáticas sobre educação, é sempre buscado um perfil, alguém que possa falar “pela classe”, ou dar uma visão mais ampla, mesmo que extremamente superficial sobre as questões que nos envolvem. Fora que o tempo proporcionado para discussões nas mídias sobre nossa profissão sempre são menores que as pataquadas – para dizer o mínimo – das “autoridades” das diferentes capitais do país, ou do precioso tempo separado para a adoração ao deus mercado.
    Tornar a educação um “serviço essencial” é muito fácil, basta uma canetada. Agora, fazer dela uma prioridade, esse é um trabalho de longo prazo, e que não dá nem ibope na mídia nem voto na urna – seja ela eletrônica ou de papel. Para tentar começar a modificar isso, a iniciativa tem que vir da base mesmo.

    Vem, vamos embora, que esperar não é saber
    Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

    Grande abraço, parabéns pelo texto e sigamos na luta!

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